quarta-feira, 28 de novembro de 2007

- Renda-se ao meu amor dilacerante!
- Amor dilacerante? Isso aí é fantasia da sua cabeça.
- Renda-se à fantasia da minha cabeça!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

- No motel? Cês tão loucos?
- Que tem? Até parece que a gente se conheceu ontem...
- A gente só vai tomar uma breja... Sussa mesmo.
- Isso é meio esquisito, né? Nós três num quarto de motel...
- Não estamos os três solteiros, ué? E são duas da manhã e eu não quero ir embora ainda.
- Estamos, mas não significa automaticamente que a gente tem que trepar. Principalmente nós três. E juntos... Aliás, pensei agora: será que deixam entrar uma mina e dois caras num quarto?
- Nunca tentei, mas acho que não deve ter problema. E ninguém tá falando nada sobre trepar.
- O que eles querem é ganhar dinheiro.
- Cacete... Será?
- ...
- Só uma breja?
- Um banho de hidro, no máximo. Tem que aproveitar, né?
- ...
- Ah, foda-se. Eu conheço um bom. Pega à esquerda no próximo farol.

Mano, não importa o que aconteça, não encosta em mim!

sábado, 24 de novembro de 2007

Das mulheres-amigas

Já ouviu a analogia da mulher e do rio? É mais ou menos assim: todas as mulheres são como rios que deságuam num mar que, nesse caso, seria dentro de suas calcinhas e o que se esconde ali dentro. Essa comparação tosca - que eu já ouvi de um grande amigo - é compartilhada por grande parte dos caras por aí se resume basicamente a uma coisa: homem não pode ser amigo de mulher e, se for, é simplesmente com o intuito de comê-las. No caso das mulheres-amigas, seus rios terminam num grande lagão, sem graça e sem vento, onde nada acontece.
Eu discordo, naturalmente. Homem pode ser amigo de mulher, sim, sem pensar em comê-la e ter um relacionamento muito profundo e proveitoso com ela. É muito bom, por exemplo, sentar num bar com uma amiga, ficar tomando cerveja e dando risada até bem tarde e sair trocando as pernas pela madrugada, sem necessariamente pensar em agarrá-la em seguida. Quando se desencana da parte sexual, descobrem-se coisas interessantíssimas sobre o universo feminino do qual, verdade seja dita, não sabemos porra nenhuma.
Quando se está num encontro, a tensão normalmente se estabelece como abelhas voando em volta de sua cabeça: o lugar tem que ser adequado, o papo também. Sabemos que a distância entre uma atitude inteligente e uma pedante é microscópica, da mesma forma que, do outro lado do espectro, uma firmeza de atitude e opiniões pode ser facilmente confundida com tosquice pura e simples. É muito cansativo, todos sabemos. Isso sem mencionar a parte prática da coisa: a menina falando sobre o mercado financeiro – assunto sobre o qual você não tem nenhum interesse ou aptidão – e você pensando simplesmente no “que horas eu dou o bote” ou “como convencê-la a ir para a minha casa em seguida”. Venhamos e convenhamos: tem dia que isso tudo enche muito o saco. Com uma amiga, sem a questão sexual envolvida, a coisa flui bem melhor. Você pode falar as maiores barbaridades do mundo que ela não vai se importar e ainda por cima vira gancho para mais cerveja e mais risadas.
E, em algumas épocas da vida, envolver-se com uma amiga pode ser tudo o que você pediu a Deus. É, literalmente, o melhor dos dois mundos. Acompanhando o raciocínio: você não está com absolutamente nenhuma vontade de se envolver com ninguém. Só de pensar em ter que dar satisfações sobre seus horários e agenda, ter e ter que agüentar crises de ciúmes, justificar o jogo do Corinthians no domingo ou suportar almoços ou reuniões de família dos outros já dá urticária, uma mulher-amiga pode ser absolutamente a melhor opção do mercado, aquilo que vai te devolver o brilho aos olhos e o sorriso nas segundas-feiras de manhã.
Até o mais animalesco dos machos também precisa do carinho da sua costela, parafraseando o mestre Xico Sá. Vez por outra, até no momento mais desencane de sua existência, ele também sente falta das laricas de madrugada a dois, papos de cueca e calcinha deitados numa segunda à noite, filme ruim na televisão abraçados no sofá, aquele perfume de xampu te deixando doido enquanto a galega está deitada em seu colo, contando alguma história de infância que te hipnotiza. E uma amiga pode te dar todo esse amor, sem exigir nada em troca além de seu amor nesses mesmos momentos compartilhados.
Vocês já se conhecem e, se convivem, é porque existem afinidades entre vocês. Essa afinidade de idéias muitas vezes se reproduz também na área física. É sempre um belo e agradabilíssimo susto quando se descobre o vulcão que estava por baixo daquela menina descoladinha, com a qual você sempre saiu de balada e conversou sobre Tarantino. E, depois, sem cobranças ou ligações para discutir nada. No máximo um outro convite desinteressado para um cinema e uma cervejinha em seguida, na boa.
Pobres moços! Contentando-se apenas com a casca e perdendo o melhor recheio.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Eu te olho e já vejo toda a tua vida exposta para mim como um outdoor. Olho em teus olhos num de teus raros momentos de distração e percebo toda a tua angústia, esse cansaço de viver precoce nos seus – o que – 22, 23 anos, no máximo? Teu vestido estampado e todos os teus acessórios dizem o que te move, a música que te envolve em tuas noites insones, o sexo infantil e desinteressado a que te submetes, a droga que te levanta e a que te derruba e a quantidade de dígitos em tua conta bancária.

Consigo, daqui de onde te observo, quase sentir o teu perfume.

As tuas tatuagens, mais do que dizem, escondem o que tu és. Essa ânsia de contemporaneidade vazia te sufoca, não? Com tuas pernas finas, brancas e lisas enroladas nas minhas num domingo de manhã, tenho certeza que conseguiria te mostrar as maiores de tuas belezas e afirmações com apenas uma xícara de café, um rabo de cavalo e uma amarrotada camisa minha apanhada do chão. Sem nenhum desespero de pose, imagem ou atitude. Toda a tua auto-afirmação que me importa e me faz dobrar os joelhos está contido em um sorriso roubado teu. Na penumbra de um quarto, sós, eu te faria perceber que não há necessidade de posar para fotografias que não estão sendo tiradas. Irias flutuar quando percebesse que não existe nenhum peso sobre teus lindos ombros.
Não tem perfume, óculos escuros, piercing ou tatuagem que se equiparem ao teu cheiro saindo do banho, de cabelos molhados, a pele úmida e geladinha no banheiro ainda esfumaçado. Não tem mostra, exposição, lançamento, balada ou rave que cheguem perto do prazer que te faria sentir numa madrugada de terça-feira, tomando um vinho no sofá e dizendo bobagens em teu ouvido; prefiro teus pés descalços, em minhas mãos, a presos em sapatos que supostamente te definem. Eu te daria a única coisa que ainda não achaste em nenhum shopping, bazar ou feira moderna: calma.
E esta dádiva está toda bem aqui, ao alcance de teu olhar. Tudo o que deves fazer é simplesmente olhar para mim aqui, escondido atrás dessa multidão, sonhando contigo.

Decálogo do Boêmio

DECÁLOGO DO BOÊMIO - Xico Sá

1) É de bom-tom sempre guardar o nome dos garçons, afinal de contas é no ombro deles que vais chorar, ao som de “Nervos de Aço”, a inevitável, acachapante e humaníssima dor de corno.

2)Na saúde e na doença, a culpa será sempre do tira-gosto, ah, aquela calabresa, aquele torresmo, aquela azeitona me fez mal à beça... Jamais a culpa será da cachaça ou do uísque.

3)Boemia é como futebol, é ritmo de jogo, seqüência; se você a larga por uns dias, ela te pega na volta, mesmo que peças,suplicante, a tua nova inscrição.

4)A divisão do tempo da prosa, na mesa de um bar, deve obedecer ao seguinte critério: 50% sobre mulheres,40% sobre futebol e 10% sobre as ressacas monstruosas, a nostalgia precoce das quedas. E que venham as próximas.

5) Procures sentar sempre nas primeiras mesas do botequim, se possível na calçada, pois todos os dias, alguma mulher irada sai de casa, revoltada com o consorte, e diz assim: “Hoje eu vou dar para o primeiro que encontrar”. Se bem colocado, este primeiro serás tu, bravo boêmio.

6) Direito máximo do consumidor boêmio: desde que o freguês não se incomode com água e sabão nos pés, poderá ficar no recinto até a descida do portão de ferro.

7) É livre o “pindura”, data vênia, para fregueses com mais de cinco anos de casa, como reza a lei do usucapião.

8) Meu bar/meu mar... É permitido nadar no seco.

9)Andem sempre com o endereço e os seus nomes completos pendurados na correntinha do pescoço.

10) No país da impunidade, a saideira é como a lei, existe para ser desobedecida. Seu garçom faça o favor!!! Mais uma!!!