segunda-feira, 19 de maio de 2008

I'm not going to think about her

Coisas que aprendi recentemente

1) Uma trepada dificilmente vai mudar a sua vida.
2) É possível amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo.
3) Tempo é foda. Literalmente resolve tudo.
4) As coisas demoram tempo para acontecer e não adianta nada querer apressar.
5) O amor vai quebrar o seu coração. Mas o pior é que vale a pena.
6) É muito, mas muito mais difícil achar uma mulher com caráter e bom papo do que uma loirinha magrinha e gostosa. Dê prioridade para as do primeiro tipo. Mas nunca ignore as do segundo.
7) Seus amigos e sua família são as duas coisas mais importantes da vida. Ponto.

Pérolas de sabedoria.

Releia pérola número 01 sempre que possível.

domingo, 18 de maio de 2008

O fetiche da mercadoria

Estava esses dias em um bar com amigos, bebendo e falando bobagens quando a conheci. Fitei os olhos da amiga que estava com ela - que estava totalmente maluca de alguma coisa que até agora não consegui identificar - ela veio em minha direção e me abraçou como se eu fosse um querido amigo que ela não encontrava havia muitos anos. A amiga era uma mestiça vulgar, convencida e chegada em álcool. A diversão ideal para uma noite de terça-feira. Ela não era nada disso.

As duas sentaram-se em nossa mesa e fizemos todo o percurso óbvio e conhecido: "como vocês chamam?", "vocês tomam vodka?", "garçom!". Ela se sentou ao meu lado e começamos a conversar. Era bonita, discreta, visivelmente constrangida por estar sentada numa mesa com aqueles desconhecidos mas aceitou a bebida e bebia com parcimônia.

Logo entramos nos assuntos em comum, ela estudava na mesma faculdade que eu havia me formado alguns anos antes, conhecíamos algumas pessoas em comum e eu não conseguia tirar os olhos dela. O assunto fluia, risadas sinceras deram lugar ao joguinho de "quero te comer" que estávamos praticando. O lugar era uma mistura de restaurante de comida japonesa, sinuca, churracaria e karaokê. Com algumas vodkas na cabeça, convidei-a para dançar. Algum cliente bêbado estava berrando algum hit romântico de quinta nos auto-falantes mas, para mim naquele momento, com ela em meus braços, era como se o Marvin Gaye estivesse sussurrando em nossos ouvidos.

Seu perfume era delicado e marcante, sua cintura bem marcada e sua mão deslizava pelo meu pescoço e me fazia desejar que aquela música horrorosa nunca acabasse. Beijei-a. A porra da música acabou. Voltamos à mesa de mãos dadas.

Mais alguns minutos de papos e carinhos, disse que precisava ir embora. Sorri, imaginando o quanto eu gostaria de colocá-la em minha vida à partir daquele momento e o quanto queria sair dali com ela, levando-a pela madrugada para onde ela quisesse me levar.

"Lindo, preciso ir agora".
"Jura? Para onde você vai agora? Podíamos ir juntos."
"Não vai dar. Vou trabalhar agora"

A ficha caiu na hora, mas fiz a pergunta mesmo assim:
- O que você faz?
- Eu faço programa.

Não sejamos hipócritas. Aquilo fez diferença para mim. A ladainha do "vou tirar você desse lugar" realmente não me atraía em nada e não tinha interesse nenhum em tirar vantagem dessa breve união que tivemos para obter serviços grátis. Seria como chamar o Tevez para bater uma bola depois de um dia de treino: você não faz as coisas que as pessoas fazem de graça com um profissional que faz isso todo dia e espera que ela se divirta com isso.

Trocamos telefones, disse que ligaria e não liguei. Recebi uma mensagem dela no celular dois dias depois. Tinha adorado me conhecer e queria me ver de novo, em situações "decentes". Imagino que ela se referia a uma cerveja, um cinema ou nada que envolvesse fezes ou animais, imagino. Não respondi a mensagem.

Poderia discorrer aqui agora um tratado sobre tabus, preconceitos, desejo e sexo, mas não acho que seja o caso. Não tive interesse em me envolver com uma prostituta, pelo fato único e exclusivo da atividade que ela exercia. Eu sou uma pessoa ruim por isso?

Gosto de pensar que não sou.

Eu sempre vou lembrar do quanto ela me fez feliz naquela noite e do seu perfume. Não é esse tipo de sensação que ela vende aos seus clientes? Uma falsa sensação de intimidade é a chave de sua profissão; mais que sexo, os homens querem possuí-la, sua alma inclusa. Eu vislumbrei uma pequena fração dela. E sabia que não poderia ser minha.

Espero que ela seja feliz.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Cão de Guarda

“Amar, além de muitas outras coisas, quer dizer deleitar-se na contemplação e na observação da pessoa amada”, sopra o velho escritor Alberto Moravia, sempre aqui na cabeceira.

Uma das melhores coisas da vida é observar a pessoa amada que dorme,entregue, para além dos pesadelos diários.

Como bem disse Antônio Maria, o grande cronista que aparece com ciúmes até da própria sombra na vida e no livro da Danuza , um homem e uma mulher jamais deveriam dormir ao mesmo tempo, embora invariavelmente juntos, para que não perdessem, um no outro, o primeiro carinho de que desperta.

Experimente você também, sensíiiiiiiivel leitora, vê o seu homem quando dorme. Há uma beleza nessa vigília que os tempos corridos de hoje não percebem.

Amar é... vê-lo dormindo como um Garfield lesado e alasanhado.

Cada mexidinha, cada gesto. O que sonha nesse exato momento? Tomara que seja comigo, você pensa, pois o amor também é egoísmo.

Gaste pelo menos meia hora por semana nesse privilegiado observatório.

Psiuuuuu!

Ela dorme.

Mãozinha no ar, como se apanhasse pássaros, que coisa mais linda. Uns 23 minutos assim, mirei no rádio-relógio. A mão desce ao colchão, quase dormente, formigamentos. Coça o nariz. Põe a mãozinha direita entre as coxas. Agora vira de lado, como os antigos LPs quando gastavam as seis músicas do A. E me abraça como nunca fosse partir, corpos viciados, almas em busca de um acerto.

Dorme, meu anjo.

Ela obedece.

Vigio o sono dela como um soldado zapatista na selva escura.

Como um cão zela o sangue do dono.

Como se fosse um homem-exército e pronto.

Amar, no início era o verbo intransitivo da alemã professora de amor de Mario de Andrade. O idílio tem sobrevida, não como gênero, mas como vício, vício de amar. Amar de muito.

A mão desce agora sobre o meu peito, como se medisse meus batimentos.

A mão direita volta para a arte de apanhar pássaros, que beleza, que diabos!

O ideal é que você, amiga leitora e sensivi, durma do lado esquerdo da cama, o do coração, sempre.

Mãozinha no ar catando pássaros. Até se acalmar de vez.

Calmaria danada de horas, sem coreografias ou narrativas. Sonha, sonha, sonha, minha menina.

Como é lindo a vigília ao sono dela.

Coça o nariz. Sussurra umas onomatopeiazinhas lindas de sonhos de besouros.

Ela arruma os cabelos como algas, entorpeço num mergulho.

Observar o sono do(a) amado(a) é a melhor maneira de mapear a sua beleza.

É a melhor maneira de conhecer o homem ou a mulher com quem dormimos.

E como são lindas aquelas marquinhas deixadas pelos lençóis no corpo dela. Um mapa de delírios! Melhor é lê-las como quem adivinha os sonhos e o futuro no fundo da xícara árabe ou nas cartas.

Xico Sá

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Cuidado com o que você deseja

Pense numa coisa que você quer muito. Essa coisa depende de uma outra pessoa, ok? Beleza. Imagine um telefonema agora, que você espera por uns dois anos ansiosamente. Você já fantasiou sobre todos os mínimos detalhes possíveis dessa hipotética conversa: as exatas palavras que você escutaria, como você reagiria, seu tom de voz desinteressado que você praticou milhares de vez mergulhado em pensamentos durante o banho... Sacou o tamanho da obsessão, não?
Pois bem.
Um belo dia você está simplesmente vivendo a sua vida, andando distraído pela rua e seu celular toca. O número que aparece no visor faz o seu sangue gelar. Você sabe quem é, mas não imagina o motivo dessa ligação. Você fica olhando para o aparelho berrar e vibrar na sua mão por alguns segundos, respira fundo e aperta o botãozinho verde: "alô".
Esquece imediatamente do discurso tão bem formulado e a voz sai fraca, quase débil. Uma pigarreada, uma gaguejada e você está sob as duas pernas novamente, fazendo um esforço enorme para conseguir manter uma linha de raciocínio numa conversa com o mínimo de coerência.
E aí acontece. E nada poderia te preparar para aquilo. As palavras que vêm são exatamente as mesmas que você escutou na sua cabeça nos últimos dois anos. Uma atrás da outra. Vêm embrulhadas ainda por cima num belo pacote de veludo feito de arrependimentos e lágrimas. Você fica ali parado, escutando, murmurando qualquer coisa apenas para demonstrar que você continua ali. O estranhamento toma conta de você.
O que fazer com aquilo agora? Era realmente o que você queria ouvir, com aquela similaridade insana entre a sua imaginação e aquele momento, mas agora que você finalmente ouviu, as palavras morreram no momento em que foram ditas. E você tem um elefante de doze toneladas parado na rua olhando para você.
Você nunca se preparou para o que fazer em seguida. A fantasia acabava no telefone, não tinha um depois. E essa falta de preparação te deixa perdido, confuso, um tonto com um telefone na mão e nenhuma idéia na cabeça.

Estou muito curioso com a continuação desse telefonema.