sexta-feira, 26 de junho de 2009

Museu de Grandes Novidades

Maísa, a menina-monstro do SBT, vai gravar um disco. Ujian, o orangotango de um zoológico alemão, também. O que eles têm em comum? O macaco com certeza não se ofenderá se eu garantir que é a ausência do que dizer. Mas ele sabe assobiar, um dom tão fantástico que rendeu três versões do seu single de estréia: convencional para as rádios, remix para as pistas e uma no violão, afinal o que seria do orangotango se ele não pudesse “revisitar sua carreira no formato acústico”?
Comparar um macaco a uma “de menor”, que crueldade, cadê o Estatuto da Criança e do Adolescente? Então compararemos Ujian com quem sabe (e precisa) se defender: o Coldplay. Bem, o animal não será acusado de plágio. Agora confrontemos o orangotango ao furacão Susan Boyle: coitada, Ujian é muito mais sexy.
A conclusão é que o macaco é mais interessante do que qualquer fenômeno pop recente, mas quem vai assumir esse mico? Ninguém, tanto que a apresentação musical do último Super Bowl, a maior audiência televisiva dos EUA, foi do Bruce Springsteen. E os shows de maior destaque do concorrido festival Coachella foram os de Paul McCartney, Morrissey e Leonard Cohen. O que eles têm em comum? Fora o fato de somarem 250 anos de idade? Bono explica.
Certa vez, comentando o impacto dos últimos discos que Johnny Cash gravou, debilitado e doente, Bono veio com a teoria de que Elvis Presley chocou o mundo com as suas reboladas porque foi o primeiro jovem num cenário dominado por velhos. Mas o tempo passou e a situação ficou tão excessivamente juvenil que o surgimento de alguém com coragem para tratar de temas sérios, como a iminência da morte, causa o mesmo impacto do rei.
Pois é, apesar da babaquice política, Bono é, antes de tudo, um grande fã de rock e eu estou com ele. Neste cenário repleto de macacos e maísas, muito louco é pirar o cabeção no Leonard Cohen, um senhor de 74 anos que só veste terno e gravata, passou os últimos 15 anos sem fazer uma turnê sequer (não é muito louco?) até lançar um aclamado disco ao vivo no qual conversa com a platéia: “Eu estava bebendo com o meu mentor... ele tem 102 anos hoje, mas tinha 97 na época. [Aqui o público ri] Eu lhe preparei um drinque, nós brindamos e ele disse: ‘Me desculpe por não morrer’. Eu estou me sentindo do mesmo jeito agora”. E a multidão ri de novo, desajeitada, sem saber se era para ter rido antes, completamente desconcertada pela seriedade avassaladora de Cohen, uma seriedade muito mais impactante que qualquer macaquice que nos acostumaram a ver por aí. Uma seriedade tão chocante quanto foi um dia a pélvis do Elvis.
E ainda tem gente que não consegue entender como é que o Bob Dylan chegou ao primeiro lugar das paradas britânicas desbancando Lady Gaga, Beyoncé, Kings of Leon e Pussycat Dolls.

Miguel Sokol
(Originalmente publicada na revista Rolling Stone Brasil, junho de 2009)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Um sopro de verdade



O que sempre me atraiu em música – e na vida em geral – é uma busca por algum tipo de verdade. Como o Elvis Costello já disse antes: “a verdade não pode te machucar, ela é como a escuridão. Te assusta no começo mas depois você enxerga as coisas com clareza e objetividade”. Sem desmerecer ninguém, nunca me interessei por intérpretes, por exemplo. Sempre achei esquisito usar as palavras e os arranjos de outra pessoa para expressar sua própria visão de mundo. É um pouco o que eu faço com freqüência por aqui, mas nunca tive nenhuma pretensão artística com esse meu cantinho solitário de idéias.

Talvez por isso meus heróis sempre foram aqueles que conseguiram criar o seu próprio universo de canções, usando seus próprios sentimentos e histórias para construir um mundo que faz sentido para quem os escuta, um espelho que nos faz enxergar quem somos, quietos com nossos headphones.

Comprei um CD esses dias chamado Sweet Jardim, de uma moça chamada Tiê, daqui de São Paulo. Vi uma resenhinha sobre o disco num site qualquer, com uma foto dela ao lado do texto. Admito que mulher bonita sempre tem automaticamente minha atenção – e a moça é linda! O texto trazia um breve currículo dela, a “nova sensação da MPB dessa semana” e algumas linhas sobre o disco. Fiz uma anotação mental e deixei para lá. Provavelmente ela já é bem conhecida no mundinho alternativo-cultural paulistano, mas como não moro nessa cidade tem algum tempo, perdi todo o hype-Ilustrada em torno da moça. Graças a Deus.

Tem muito tempo que não aparece nada que me interessasse em música brasileira. Justamente por estar sempre em busca de algo que me dissesse algo, alguém que se mostrasse real, sem frescuras e sem recalques, fazia muito tempo que não ouvia nada que me chamasse atenção. Que me perdoem os puristas verde-amarelos, mas a coisa está feia na terra dos sabiás: bandinhas emo de uns moleques remelentos de franjinha que não sabem sequer fazer um refrão decente, que o máximo de erudição musical começa com Red Hot e termina com Linkin Park; bandinhas pseudo-intelectualóides-tropicalistas-antropofágicas-barbudas-de-merda, requentando um som e uma estética que foi transgressor 40 anos atrás e acham que tudo é muito novidade; e o pior, as divas! Essa praga de intérpretes femininas, sempre com os mesmos arranjos cafonas, trejeitos viciados de décadas atrás, cantando sempre as mesmas malditas canções dos sempre mesmos Renatos Russos, Cazuzas, Chicos e Caetanos.

E no meio desse bode todo com a ceninha local, me cai nas mãos essa pequena jóia.
Tiê não quer reinventar a roda, não faz som para ser cult. Não quer ser a nova Elis Regina. Não regravou Zeca Baleiro ou qualquer outra desgraça dessas. Seu disco é composto por 10 pérolas de sua própria autoria, arranjos simples e lindíssimos ao violão, com um piano e um violino aparecendo aqui e ali. As letras são diretas - confessionais, dizem - sem joguinhos de palavras concretas-toscas ou qualquer outro artifício para parecer inteligente. E, lembrando, com a exceção de uma música em inglês e outra em português e francês, todas as músicas são em português. Fica mais difícil de disfarçar qualquer bobagem na nossa língua pátria, não?

Eu não me interesso por artistas, eu me interesso por pessoas que fazem arte. Tiê se mostra inteira, com todas as dúvidas, arrependimentos, dores e delícias que formam todos nós, um ponto em comum com todos que eu admiro, de Leonard Cohen a Johnny Cash, de Bruce Springsteen a Tom Waits.
(Um detalhe que me fez gostar mais ainda da moça: numa entrevista dela que vi no YouTube, ela cita Tom Waits e do quanto gosta de lavar louças ouvindo Closing Time. É o meu disco favorito do momento, descoberto recentemente, e realmente é a melhor trilha sonora para esse tipo de trabalho doméstico, absorto em si mesmo e nos pratos sujos).

Tiê não revolucionou nada e penso que nem tem essa pretensão. Seu disco de estréia é lindo, verdadeiro em sua simplicidade. Vale com certeza muitas ouvidas, esse é daqueles discos que te fazem companhia, com cada palavra e nota colocadas no lugar certo e que acham espaço e sentido em nossas próprias histórias. Foda-se se vai ganhar alguma coisa da APCA – ainda existe isso? – ou se ela vai virar a “next big thing”. Espero que não. Torço para ela continuar procurando a sua voz e a sua verdade. E que continue sentindo essa necessidade de compartilhar com o resto de nós esses fragmentos de sua vida.

Uma das minhas favoritas do disco: Assinado Eu.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

I believe in pop music

É isso que eu amo a respeito de música pop. A de verdade, feita com algum sentimento e fé, como tudo que tem algum valor nessa vida.
Uma canção simples, com arranjos mais simples ainda, escrita provavelmente por alguém jovem, sem grandes aspirações estéticas ou artísticas, num espaço de tempo ridiculamente curto de três minutos e pouco, subitamente te transporta para outro lugar. Você consegue se enxergar naqueles versos simples. De repente, numa nova canção descoberta, é possível enxergar sentido em um monte de coisas que ficam rodando na sua cabeça durante todo o resto do tempo quando se está no mundo real. De Marvin Gaye a Daft Punk, de Johnny Cash a Nirvana. Zeca Pagodinho, Radiohead, Arctic Monkeys, Chemical Brothers ou Fiona Apple, tanto faz.
Claro que essa identificação é possível de ser encontrada em qualquer manifestação artística e, normalmente, o que se vê numa determinada peça de arte diz muito mais sobre o observador do que sobre o artista: um Rorschach feito de timbres de guitarras, tintas coloridas e processadores de texto.

Compartilhando o momento da última "descoberta":

Ziggy Marley - True to Myself

quarta-feira, 10 de junho de 2009

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Pensando

Pensei em ficar.
Pensei em voltar.
Pensei então em ficar entre essas duas possibilidades.
Pensei que não era possível e que devia pensar em alguma coisa nova.
Pensei, pensei...
E nada.
Pensei em correr. Depois pensei em me esconder. Existe algum esconderijo pro pensamento?
Pensei no passado. Não consegui pensar no futuro. Isso é o presente, então?
Pensei então que deveria parar de pensar.
Pensar demais não estava ajudando.

Penso que não está funcionando muito.