terça-feira, 24 de maio de 2011

Quando uma coisa vira outra coisa (ou Minhas Versões Favoritas dos Beatles)

Sempre achei fantástico, no campo da criação, a dissociação existente entre autor e obra. Quando o produto finalizado sai da cabeça do criador e vira uma entidade autônoma e auto-suficiente, propensa a reinterpretações e releituras, muitas vezes obtendo resultados que se distanciam enormemente da intenção da obra original.
Tava pensando nisso outro dia, pensando em versões de músicas. Resolvi colocar aqui minhas versões favoritas de canções dos Beatles. É o caso de transformação a que me referia: o resultado final da canção a transforma em outra coisa, diferente da idéia original. E, vamos concordar: se o cidadão consegue dar um novo sentido à uma canção dos Beatles, merece no mínimo uma escutada.


Fiona Apple - Across the Universe

Aqui a melodia casa perfeitamente com a letra e intenção da canção. Um tom mais repetitivo e monocórdico, um riff de bateria que carrega a canção como um mantra. "Nothing's gonna change my world" nunca soou tão verdadeiro. E eu acho ela foda, ponto!




Elliott Smith - Because

Acho que essa é uma das mais respeitosas versões que conheço. Elliott Smith era um beatlemaníaco e o rigor com que ele interpreta esse clássico do Abbey Road, especialmente o começo a capela, é arrepiante!




Nick Cave - Let It Be

É inevitável associarmos a imagem do intérprete com o que ele está cantando. Nesse caso, a versão de Nick Cave - um cara que já viu de tudo um pouco nessa vida - traz uma honestidade e um sentimento de redenção novos à canção. É aquela coisa de católico culpado elevado a décima potência. Lindo!




Johnny Cash - In My Life

Aqui o negócio é muito sério. Uma coisa é imaginar Paul McCartney - compositor genial, sem dúvida alguma - novinho, meio ingênuo até, dizendo "in my life I love you more". Outra, completamente diferente, é imaginar Johnny Cash, outro que viu de tudo nessa vida, velho, doente, tendo perdido recentemente o amor de sua vida inteira, porém com aquela sabedoria que apenas o tempo oferece, repetindo a mesma frase. Arrepia toda vez que escuto.




Easy Star All-Stars - She's Leaving Home

Na versão original, sempre tive aquela impressão de "meninos-falando-sobre-meninas-Virgens-Suicidas-style", com aquele misto de admiração, fofura, tosquice adolescente e ignorância. Nessa versão do Easy Stars, a conversa parece ser mais íntima, menina falando sobre menina, e os moleques tentando escutar através da porta. Viajei?




Florence and the Machine - Oh Darling

Florence Welch demonstrou bastante personalidade em seu disco de estréia do Florence and the Machine, como faz também nessa versão de uma canções favoritas de um dos discos favoritos da casa.




Al Green - I Want to Hold Your Hand

Quando os Beatles cantaram essa canção em 1963, dá até pra imaginar que eles realmente queriam apenas pegar na mão da muchacha. A versão de Al Green é tão quente que ficamos na dúvida do que mais ele quer pegar.