segunda-feira, 4 de julho de 2011

Like a Rolling Stone





Fui convidado por uma amiga para uma festa na casa de um vizinho dela no Lago Norte, em Brasília.  As festas do vizinho sempre eram bem animadas, segundo ela, a casa era grande, sempre tinha bastante cerveja gelada e, a melhor parte, o vizinho tocava numa “banda cover dos Rolling Stones”.  Não estava fazendo nada mesmo, vamos nessa.

O som estava alto.  Conseguia escutar You Can´t Always Get What You Want no quarteirão de trás da casa.  Pela altura da música, já imaginava que estava indo para uma festa na Mansão da Playboy.  Pura ilusão.  Quando chegamos, o cenário era bem menos excitante: uma casa grande, bonita, mas com meia dúzia de gatos pingados em pé com frio, chacoalhando os joelhinhos, enquanto a banda tocava.  Minha amiga não conhecia ninguém - eu menos ainda.  Roubada, pensei.

Nos olhamos e rapidamente corremos em direção à tina de cerveja.  Realmente estava gelada.  Achamos um canto próximo à banda e começamos a assistir ao show.

Aqui coloco um parênteses.

Nunca entendi muito bem esse negócio de banda cover.  Na minha cabeça, banda cover é coisa de moleques de 15 anos, fãs de punk rock, que não sabem tocar direito e querem tirar uma onda tocando um som que gostam e que não seja muito difícil.  O barato de ter banda é tocar as suas próprias músicas, foi o que sempre pensei.

Enfim...

Essa banda que assisti no último sábado era tudo menos amadora.  Os músicos eram excelentes, pessoal mais velho, os equipamentos e instrumentos eram de primeira, tudo bem equalizado, os caras tinham um repertório de quem sabia do que estava falando.  Não sou nenhum grande fã de Rolling Stones, mas eu sei quando as versões são boas ou não.  E a deles era excelente.  Tocaram todos os hits, umas antigas e “um pouco de Stones anos 90 para vocês” rigorosamente igual às versões originais.
E a postura dos caras no palco improvisado foi o que mais me chamou a atenção.  Embora eles estivessem tocando em casa - o tal do vizinho era o Ron Wood do rolê - para meia dúzia de amigos, a impresão é que eles estavam tocando no Rock in Rio: “quem sabe agora canta junto!”, “tá bonito” e vários “oh, yeah” bem encaixados serviam para chamar a massa para a celebração rock n´roll.  
Mas o que me deixou passado foi o guitarrista, o Keith Richards brasileiro.  Beirando seus 60 anos, calça jeans e blusa de moleton cinza, meio careca de óculos, o cara parecia aqueles tiozinhos bem caretas que a gente encontra em repartições públicas (estando em Brasília, a possibilidade é real).  E o cara era um monstro na guitarra!  Sem sacanagem, nesse universo de guitarrista de rock clássico, estilo guitar hero, solos com milhares de notas durante 15 minutos e o caralho, ele era o cara.  

Nenhum dos caras da banda vive de música, fiquei sabendo.  O tesão deles é justamente emular, nota por nota, trejeito por trejeito, a atmosfera e a música de seus ídolos, mais do que se expor ou se desgastar com trabalhos autorais.  Pelo que vi, eles devem ter acumulado milhares de horas de ensaios e treinamento e devem ter desembolsado uma bela grana em equipamentos para atingir o som, a técnica e o entrosamento que demonstraram.  

Todos nós já vimos milhares dessas bandas cover pelos barzinhos da vida, bandas de formatura ou de casamentos, que tocam, melhores ou piores, as músicas que um determinado público quer ouvir, sem que role necessariamente uma identificação dos músicos com o que estão tocando.
No sábado, eu vi o contrário.  Uma banda se divertindo, sábado à noite, em casa, com poucos amigos - acho que se não tivesse ninguém a execução deles seria a mesma - replicando um som com os quais eles claramente são apaixonados.  Fez parar para pensar.
 
No fim das contas, foi uma noite divertida.  A banda me devolveu por algumas horas uma fé no rock n'roll que já andava meio adormecida para mim.  E nem eu acreditei quando me vi fazendo o famoso corinho ("uhh uhh") de Sympathy for the Devil às 3 horas da manhã.