Eu te olho e já vejo toda a tua vida exposta para mim como um outdoor. Olho em teus olhos num de teus raros momentos de distração e percebo toda a tua angústia, esse cansaço de viver precoce nos seus – o que – 22, 23 anos, no máximo? Teu vestido estampado e todos os teus acessórios dizem o que te move, a música que te envolve em tuas noites insones, o sexo infantil e desinteressado a que te submetes, a droga que te levanta e a que te derruba e a quantidade de dígitos em tua conta bancária.
Consigo, daqui de onde te observo, quase sentir o teu perfume.
As tuas tatuagens, mais do que dizem, escondem o que tu és. Essa ânsia de contemporaneidade vazia te sufoca, não? Com tuas pernas finas, brancas e lisas enroladas nas minhas num domingo de manhã, tenho certeza que conseguiria te mostrar as maiores de tuas belezas e afirmações com apenas uma xícara de café, um rabo de cavalo e uma amarrotada camisa minha apanhada do chão. Sem nenhum desespero de pose, imagem ou atitude. Toda a tua auto-afirmação que me importa e me faz dobrar os joelhos está contido em um sorriso roubado teu. Na penumbra de um quarto, sós, eu te faria perceber que não há necessidade de posar para fotografias que não estão sendo tiradas. Irias flutuar quando percebesse que não existe nenhum peso sobre teus lindos ombros.
Não tem perfume, óculos escuros, piercing ou tatuagem que se equiparem ao teu cheiro saindo do banho, de cabelos molhados, a pele úmida e geladinha no banheiro ainda esfumaçado. Não tem mostra, exposição, lançamento, balada ou rave que cheguem perto do prazer que te faria sentir numa madrugada de terça-feira, tomando um vinho no sofá e dizendo bobagens em teu ouvido; prefiro teus pés descalços, em minhas mãos, a presos em sapatos que supostamente te definem. Eu te daria a única coisa que ainda não achaste em nenhum shopping, bazar ou feira moderna: calma.
E esta dádiva está toda bem aqui, ao alcance de teu olhar. Tudo o que deves fazer é simplesmente olhar para mim aqui, escondido atrás dessa multidão, sonhando contigo.
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