domingo, 23 de dezembro de 2007

Novos rumos

Vou imprimir novos rumos
Ao barco agitado que foi minha vida
Fiz minhas velas ao mar
Disse adeus sem chorar
E estou de partida
Todos os anos vividos
São portos perdidos que eu deixo pra trás
Quero viver diferente
Que a sorte da gente
É a gente que faz

Quando a vida nos cansa
E se perde a esperança
O melhor é partir
Ir procurar outros mares
Onde outros olhares nos façam sorrir
Levo no meu coração
Uma grande lição que contigo aprendi
Tu me ensinaste em verdade
Que a felicidade está longe de ti

(Paulinho da Viola)

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Continuum - John Mayer

Estou um pouco longe de casa agora e com vontade de conversar um pouco. Estou nesse momento precisamente num quarto de hotel em Montevidéu, escutando John Mayer e pensando na minha vida, que se desenrola longe de mim agora. Eu sei que a nossa vida está onde a gente está e tal, mas acho que você entende o que quero dizer. Todos que eu amo, respeito e tenho em estima encontram-se, a maioria deles, a pelo menos dois mil quilômetros de distância. É coisa pra cacete. Tem uns que estão bem mais longes do que isso, mas acho que deu pra entender o ponto....

O motivo de me fazer te enviar esse email é, além da vontade de conversar com alguém, aquela coisa do feels like home, de dizer o quanto esse disco está mexendo comigo agora. Acho mais que justo compartilhar essa experiência contigo, já que você foi quem cantou letra para mim sobre o sr. Mayer.

Estava para viajar e queria um som novo para escutar numa cidade nova. Aquelas simbologias toscas que fazemos quando tudo ao redor parece estar desmoronando e pelo menos alguma coisa tem que fazer sentido. Pois bem...
Estava eu em frente ao bom e velho eMule pensando no que baixar, em qual seria o som que me faria companhia pelos próximos dez dias em terras "estrangeiras" (as aspas são para dizer que aqui é estrangeiro numas. Talvez seja só um pouco mais estrangeiro que Porto Alegre... Lá eles falam português. Foi a maior diferença que achei até agora). Lembrei-me da conversa que tivemos aquele dia em casa, quando você me falou do John Mayer. Uma rápida consulta no Amazon.com e no Last.fm me mostraram todos os antecedentes criminais do meliante e duas palavras e um enter no eMule me mostrava tudo que havia para se ouvir do mesmo. Baixei o Continuum, disco do ano passado. Confesso que não tenho nenhuma outra referência do moço além desse disco, que nem sei se é o melhor ou não, ou o que mais ele já produziu. Eu sei que a primeira audição me deixou meio assim.... "Peraí, do que esse moleque está falando?"... Admito que tentei ir atrás de outras dicas dadas anteriormente e não me empolguei com elas. Robbie Williams é bem legal como uma figura pop elevada à décima potência, mas parece tão falsa quanto o Mickey Mouse. O Dave Matthews Band também foi outra descoberta que não me empolgou. O som é absurdamente bem feito, mas me pareceu alguma coisa como a flor American Beauty. É maravilhosa de se tirar fotos, mas onde está o perfume, saca? Eu sempre pensava: "Pra quem esse cara está cantando?? Do que diabos ele está falando?"... Não bateu mesmo.

Por fim, baixei o disco do John Mayer, meio de pé atrás. Rapaz, tomei um soco no estômago.

Deixa eu te contar uma historinha meio Alta Fidelidade sobre meus discos favoritos antes de entrar na minha nova e grata descoberta. Eu tenho dois discos sagrados em minha vida. Lógico que eu tenho vários que representam muita coisa para mim, em momentos distintos da vida, com pessoas diferentes. Mas dois são fundamentais acredito até para definir a pessoa que eu sou hoje. Um é o Tunnel of Love, do Bruce Springsteen. O outro é o American IV: The Man Comes Around, do Johnny Cash.
Fazendo uma resenha tosca e rápida de cada um deles, posso dizer que cada um deles explicita momentos totalmente opostos daquilo que convencionamos dizer "o que realmente é ser um homem". Mas os dois são igualmente verdadeiros e pungentes no que eles se propõem a dizer.

O disco do Springsteen é de 1987 e é provavelmente o disco que mais escutei na vida. Eu o descobri em 2000, 2001, quando eu estava saindo de casa, indo morar sozinho com a minha mulher e com um cagaço sem precedentes do que eu estava fazendo da minha vida. Que horas um moleque vira um homem, Zé? Que horas você está oficialmente autorizado a usar as calças compridas? Eu não sei te dizer isso até hoje, mas esse disco apresenta boas dicas de onde começar. Sentimentos como ciúmes, medo do desconhecido, inseguranças sobre suas próprias capacidades e do que mundo é capaz de fazer contigo são cantadas por um cara que já vinha de uma ressaca de sucesso com poucos precedentes na história da música pop (esse disco é imediatamente posterior ao mega-estrelato que o Springsteen conheceu na fase Born in USA). De uma turnê de quase três anos lotando estádio atrás de estádio, com suas músicas tocando no planeta inteiro, ele enfrentava uma séria crise em seu casamento, e um sentimento de onde ir a partir daquele momento. Tunnel of Love é um disco bastante intimista, semi-acústico, com uma temática nada grandiosa comparada ao seu antecessor. Grandiosa numas, né? A vida de qualquer um pode se tornar um poema épico dependendo da visão do artista.
Já o disco do Johnny Cash é o fim dessa trip. É meio uma olhada por trás do ombro sobre todas essas perguntas que a gente leva a vida inteira e, de repente, as coisas são infinitamente mais simples do que acreditamos. A gente perde tanto tempo se preocupando com merda e, no final, o que importa é simplesmente quem amamos e quem nós deixamos que nos amem. Lembrando que quando ele fez esse disco, ele já estava super velho, sua esposa da vida inteira estava doente e ele já tinha visto de tudo nessa vida e não tinha mais nada a provar a ninguém. Assim que as sessões de gravação terminaram, June Carter morreu e ele a seguiu três meses depois. Para mim, é o tipo de história que vale uma tatuagem no braço.

Mas chegando onde eu gostaria de chegar (sim, eu estou com tempo. Sim, estou prolixo. Sim, estou me sentindo meio solitário agora), senti com Continuum uma sensação parecida com a que tive quando escutei esses dois discos. Acho maravilhoso que, nesses tempos de eMules e iPods, esse conceito de "álbum" ainda tenha sentido.
Ainda não consegui formular uma opinião verdadeira do conceito desse disco, mas esse apanhado de canções possui alguma coisa muito, muito especial. Meu Deus, o que é Slow Dancing in a Burning Room?? O título da canção já é quase suficiente para te evocar a imagem precisa do que ele quer dizer com o restante da música. Admito que, pessoalmente, ela me pegou em uns níveis que andavam meio adormecidos recentemente. I was the one you always dreamed of / You were the one I tried to draw / How dare you say it's nothing to me, /Baby you're the only light I ever saw. / I'll make the most of all the sadness. / You be a bitch because you can. / You'll try to hit me just to hurt me, / So you leave me feeling dirty cause you can't understand. De onde esse moleque tirou essas frases?? Vou te dizer que isso me irrita um pouco. E musicalmente, o disco inteiro transpira bom gosto. Um belíssimo som de guitarra, com nada de virtuose, que eu detesto, mas fazendo o instrumento trabalhar em função da canção e não o contrário.
Outra música que me encheu de brios foi I'm Gonna Find Another You. A estrutura da música não poderia ser mais simples, emulando aqueles bluezões antigos, que tinham apenas um tema que era trabalhado estrofe atrás de estrofe. A lição de casa de John Mayer foi muito bem feita. Ele entendeu que essa suposta simplicidade lhe dava espaço para trabalhar um tema complexo como o que ele apresenta na canção. 90% do universo musical pop é composto de canções sobre amor, de uma forma ou de outra. Música para conquistar a figura amada, para desprezar aquela que o desprezou, para exprimir saudades do amor ausente e por aí vai... A abordagem dele é, ao mesmo tempo, clássica e original. Clássica no sentido de "ok, você me chutou mas você sentirá minha falta" e muito original na contradição que o próprio título demonstra: "ok, você me chutou, você sentirá minha falta e quando eu encontrar um novo alguém, espero que se pareça com você". (nota: a muchacha que eu estou saindo ultimamente é uma loirinha, branquinha, de olhos verdes, com aquela apaixonante carinha de nada que eu adoro.... Mas continuando!). Vultures é uma música que deveria ter sido escrita por um cara de 50 anos, não por um de trinta! Não faz sentido! Assusta-me pensar aonde esse cara pode chegar. Até onde será que vai seu tesão por escrever essas músicas que ele tem escrito? Eu sinceramente espero que ele não perca essa fogo.
Todas as músicas desse disco têm vida própria, todas possuem alguma coisa que te faz grudar os ouvidos e ver até onde elas vão até acabar. Sinceramente não sentia isso fazia bastante tempo, embora tenha achado artistas maravilhosos nos últimos tempos, como Aimee Mann, Amy Winehouse, Counting Crows (pois é, descobri agora) e Madeleine Peiroux. Mas John Mayer está um degrau acima deles. Quem pode disputar o podium com ele na minha opinião é John Legend, um cara absurdamente fantástico, que transborda mojo, mas é doloroso demais para eu escutar no momento. Duvida? Baixa Ordinary People e vem me contar... Vou guardá-lo na prateleira para daqui uns anos. E o filha da puta é um ano mais novo que o Mayer!!

Ah, Zé, acho que era isso que eu queria compartilhar com você. Queria que alguém que também entende o quanto uma boa canção ou o acorde certo de guitarra podem fazer com a vida de alguém. Além de me sentir confortável para me abrir sobre determinados sentimentos que me surgem derivados dessas músicas e acho que essa é a única discussão sobre música que vale a pena: como aquilo te afeta e como afeta a sua vida e o mundo ao seu redor. Acho que você entende isso.

Bem, eu ainda tenho uma semana por aqui, quilômetros de calles para percorrer, baladas para me embriagar e pessoas para conhecer. Só sei que essa trip, nesse momento peculiar da minha vida, já tem trilha sonora certa.

Um abração do seu amigo

Montevideo, Abril de 2007
“Ninguém se separa, Rímini. As pessoas se abandonam. Essa é a verdade, a verdade verdadeira. O amor pode até ser recíproco, mas o fim do amor não, nunca. Os siameses se separam. Mas não se separam, tampouco: porque sozinhos não conseguem. Um terceiro precisa separá-los: um cirurgião, que corta pelo meio o órgão ou o mesmo ou a membrana que os une com um bisturi e derrama sangue e na maioria das vezes, diga-se de passagem, mata, mata um deles, pelo menos, e condena o outro, o sobrevivente, a uma espécie de luto eterno, porque a parte do corpo pela qual estava unido ao outro fica sensibilizada e dói, dói sempre, e se encarrega de lembrá-lo, sempre, de que não está nem nunca vai estar completo, que isso que lhe tiraram nunca mais poderá ter de novo.”

Alan Pauls, O Passado

domingo, 9 de dezembro de 2007

Dan: What's so great about the truth? Try lying for a change, it's the currency of the world.
Alice: Why isn't love enough?
Larry: Alice, tell me something that's true.
Alice: Lying's the most fun a girl can have without taking her clothes off - but it's better if you do.
Dan: And you left him, just like that?
Alice: It's the only way to leave. "I don't love you anymore. Goodbye."
Dan: Supposing you do still love them?
Alice: You don't leave.
Dan: You've never left someone you still love?
Alice: Nope.
Dan: I want Anna back.
Larry: She's made her choice.
Dan: I owe you an apology. I fell in love with her. My intention was not to make you suffer.
Larry: So where's the apology? Ya cunt.
Dan: I apologize. If you love her you'll let her go so she can be happy.
Larry: She doesn't want to be happy.
Dan: Everybody wants to be happy.
Larry: Depressives don't. They want to be unhappy to confirm they're depressed. If they were happy they couldn't be depressed anymore. They'd have to go out into the world and live. Which can be depressing.

To the faithfull departed

Um gole pelos ausentes: os de escolha e os de nem tanta escolha assim.
Levanto meu copo, derramo minha bebida na mesa e olho nos olhos dos que já não levantam seus copos comigo. Os que sentam à minha volta eu levo para sempre; os que já estiveram em minha cabeceira e agora o destino ignoro, também.
Os perfumes, as risadas e os segredos compartilhados sempre serão parte de nossa cumplicidade inabalável. A sua companhia é o que me faz falta. A certeza de que não teremos novos perfumes, risadas e segredos compartilhados é o que me tira o sono e me faz tremer durante a noite.
Brinda comigo uma última vez. A bebida deve descer de uma vez, queimando, deixando seu rastro de fogo garganta abaixo. A risada vem fácil em seguida.

Depois segue seu caminho e seja feliz.

E me deixe em paz.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Decadence avec elegance

Ah, o doce encanto da decadência...

Gozado o quanto pode ser irresistível enfiar o pé na doce lama do foda-se. Atitudes auto-destrutivas, paradoxalmente, podem ser das poucas coisas que te fazem sentir algo diferente do que você sente todos os dias, quando você está correndo atrás dos seus indefectíveis sonhos/objetivos – aquelas coisas que todos dizem que seguem atrás, uns dizem que já alcançaram e a imensa maioria nem tem idéia do que seja (experimente dizer para alguém que você não tem um sonho/objetivo maior na sua vida e repare na cara de espanto e reprovação de seu interlocutor).

Não estou falando aqui sobre depressão – que é uma merda – nem em fazer coisas estúpidas como brincar com armas ou arranjar briga como um imbecil em qualquer lugar. Estou falando daquelas noites aonde se vai para o tudo ou nada, o all or nothing at all. Os olhos cheios de sangue, todos os músculos do corpo em alerta para dar o pulo, aquele sorriso de canto e a disposição para encarar absolutamente tudo que aparecer na sua frente – bem, nem tudo, mas uma quantidade bem grande de coisas que até você consideraria estúpidas em outras situações.

Seu fígado torna-se de teflon, seus olhos nunca estiveram tão alertas e você consegue agir rápido como um gato. Você consegue olhar nos olhos de uma mulher no balcão do bar e, no espaço de uma piscada, transmitir em banda larga todas as suas expectativas e o que você é capaz de fazer. E ela sabe o que é. E ela gosta. Um Marlboro para ganhar uns minutos de expectativa, uma segunda olhada e ataque. Normalmente funciona.

Os amigos de decadência são uma das melhores coisas que se pode conseguir para te acompanhar nessas trips e a pior coisa que se pode conseguir caso te aconteça alguma merda. Essa dicotomia é o que torna a coisa interessante: você, nesse momento, genuinamente gosta de todos eles – eles estão contigo até o sol raiar, embaixo das mesmas luzes e envoltos na mesma cortina de fumaça. E eles também gostam de você pelos mesmos motivos. Mas são pessoas de quem eu não compraria um carro usado.

Quando se vai dormir após uma noite dessas – que pode ser qualquer horário do outro dia – é que a realidade novamente te bate à porta e o momento de acordar – argh - costuma ser um baque terrível. Os olhos ardem, a cabeça pesa, o estômago nunca esteve pior, o cheiro de cinzeiro em você é bem nojento... É a maldita lei da ação e reação, imagino: quantidades incríveis de prazer equivalem a quantidades incríveis de desprazer. Não tem muito como fugir disso.

O máximo que se pode fazer é, com sorte, cobrir a menina que está ao seu lado, sentar na cama e acender um cigarro se perguntando porque essa maldita sensação de foda-se sempre te persegue.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Da justiça do mundo

"Quem com ferro fere, com ferro será ferido"
"Tudo o que vai, volta"
"Aqui se faz, aqui se paga"

Hahahahahaha...... Maldita justiça poética!!

sábado, 1 de dezembro de 2007

Despedida

- Mas eu te amo.
- Isso não é amor.
- O que é, então?
- Isso é saudade.

Sex is not the enemy

Quando sexo virou uma coisa complicada? Sempre foi assim e eu que não acreditei quando me contavam? Como conciliar a respiração ofegante, as pernas entrelaçadas e as mãos apertando forte a cinturinha da moça com tudo aquilo que o Marlon Brando nos ensinou com uma mexerica na boca e que sempre seguimos como verdade absoluta?
As mensagens opostas são o que fodem tudo na nossa pobre cabecinha judaico-cristã: de um lado tem aquela bobagem do “fazes o que queres pois é tudo da lei” ou algo que o valha; de outro tem o “não faça com os outros o que não quer que façam contigo”. E aí? Fazer ou não fazer? Ou umas mais toscas, tipo: “é melhor se arrepender do que você fez do que se arrepender do que você não fez”. Porra, tem que ter arrependimento de qualquer jeito? Culpa, castigo, arrependimento, esse ciclo óbvio de sempre.... Nossa vida é mesmo uma novela ruim.

Parênteses: juro que nunca vão me ver entrar na fila daquele mantra estúpido do “eu nunca me arrependo de nada do que fiz”. Quem não fez as suas merdas por aí e não tem a sua parcela de arrependimento na vida ou é mentiroso ou é muito cínico.

Chovendo no molhado aqui, é fácil apontar dedos quando se está na situação confortável. Difícil é seguir esses mesmos dedos quando se está sozinho no mundão.

Que merda!