Ah, o doce encanto da decadência...
Gozado o quanto pode ser irresistível enfiar o pé na doce lama do foda-se. Atitudes auto-destrutivas, paradoxalmente, podem ser das poucas coisas que te fazem sentir algo diferente do que você sente todos os dias, quando você está correndo atrás dos seus indefectíveis sonhos/objetivos – aquelas coisas que todos dizem que seguem atrás, uns dizem que já alcançaram e a imensa maioria nem tem idéia do que seja (experimente dizer para alguém que você não tem um sonho/objetivo maior na sua vida e repare na cara de espanto e reprovação de seu interlocutor).
Não estou falando aqui sobre depressão – que é uma merda – nem em fazer coisas estúpidas como brincar com armas ou arranjar briga como um imbecil em qualquer lugar. Estou falando daquelas noites aonde se vai para o tudo ou nada, o all or nothing at all. Os olhos cheios de sangue, todos os músculos do corpo em alerta para dar o pulo, aquele sorriso de canto e a disposição para encarar absolutamente tudo que aparecer na sua frente – bem, nem tudo, mas uma quantidade bem grande de coisas que até você consideraria estúpidas em outras situações.
Seu fígado torna-se de teflon, seus olhos nunca estiveram tão alertas e você consegue agir rápido como um gato. Você consegue olhar nos olhos de uma mulher no balcão do bar e, no espaço de uma piscada, transmitir em banda larga todas as suas expectativas e o que você é capaz de fazer. E ela sabe o que é. E ela gosta. Um Marlboro para ganhar uns minutos de expectativa, uma segunda olhada e ataque. Normalmente funciona.
Os amigos de decadência são uma das melhores coisas que se pode conseguir para te acompanhar nessas trips e a pior coisa que se pode conseguir caso te aconteça alguma merda. Essa dicotomia é o que torna a coisa interessante: você, nesse momento, genuinamente gosta de todos eles – eles estão contigo até o sol raiar, embaixo das mesmas luzes e envoltos na mesma cortina de fumaça. E eles também gostam de você pelos mesmos motivos. Mas são pessoas de quem eu não compraria um carro usado.
Quando se vai dormir após uma noite dessas – que pode ser qualquer horário do outro dia – é que a realidade novamente te bate à porta e o momento de acordar – argh - costuma ser um baque terrível. Os olhos ardem, a cabeça pesa, o estômago nunca esteve pior, o cheiro de cinzeiro em você é bem nojento... É a maldita lei da ação e reação, imagino: quantidades incríveis de prazer equivalem a quantidades incríveis de desprazer. Não tem muito como fugir disso.
O máximo que se pode fazer é, com sorte, cobrir a menina que está ao seu lado, sentar na cama e acender um cigarro se perguntando porque essa maldita sensação de foda-se sempre te persegue.
Um comentário:
Reiterando o comentário do post anterior...eheheh. Tá ótimo.
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