Ele já conhecia aqueles olhos cheios de água que sempre vinham com a boquinha tremendo e já sabia o que viria:
- Você acha que acabou mesmo? O cristal se partiu?
Acabou mesmo, a metáfora tosca do cristal, ai, cacete... Deixa ver, como ele poderia colocar em palavras exatamente o que gostaria de dizer?
Uma cabeça cuja imaginação fora substituída pela televisão já começava a funcionar, assim que a palavra cristal fora pronunciada. Se o cristal tinha se partido, essa era a pergunta, né? A primeira coisa que lhe passou pela mente foi um taco de beisebol violentamente destroçando em milhões de pedaços uma delicada taça de fino cristal. E outra. E mais uma. E um outro vaso com cara de custar uma fortuna. Quando tudo estivesse em pedaços apareceria do nada o galão de gasolina, daqueles vermelhos – sempre vermelhos – dos filmes, fartamente jorrando o líquido amarelo sobre aqueles cacos brilhantes. Ele quase sorriu quando o fósforo foi riscado e as chamas cresciam para fora da loja de cristais. Foi quando o enorme caminhão de sal chegou cantando pneus entrando diretamente nas chamas, em alta velocidade, despejando aquele enorme carregamento branco, apagando as chamas e salgando o terreno de vez. Tudo muito Simpsons.
Se ele achava que tinha acabado mesmo, não era isso? Ele olhou para o chão, deu uma torcidinha na boca e com algum esforço conseguiu pronunciar:
- É, acho que sim.
"...todas as atrações que uma versão prudente, mas versátil, desse misto de surpresa e fugacidade que normalmente se chama vida..."
domingo, 28 de março de 2010
sábado, 27 de março de 2010
terça-feira, 23 de março de 2010
Assinar:
Postagens (Atom)