quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Só a lama cura

O mantra é esse, pombinhos desgarrados e estraçalhados pelas agruras do amor: “Só o caminho do excesso conduz ao palácio da sabedoria”. Assina que é o verso é teu, velho William Blake.. Ou seja, numa livre tradução para a nossa baixaria de vida de hoje: SÓ A LAMA CURA!

Seu guarda, eu não sou vagabundo, sou um cara carente, estirado aqui na praça Roosevelt, com o meu próprio teatro do absurdo no bolso, pensando nela!

Seu guarda, acabei de chorar lágrimas caubói _não os da montanha, mas os vaqueiros do asfalto_ no porão com Wander Wildner, que cantava as suas dores de trovador punk brega.

SÓ A LAMA CURA!

Leve a sua dor para as ruas, seus bares/seus mares, nade com ela no seco por debaixo das mesas, exponha-se, seja a vitrine de suas próprias escoriações, não se envergonhe, molhe o ombro do garçom amigo, derrame uma para o santo e entorne a próxima bagaceira com gosto de sangue e luto.

Se a vida dói, drinque caubói.

Wander Wildner, o que nossa dor idiota vai ser quando crescer? Rato de porão, rato de porão.

Cubra-se do negro do luto e qual um espadachim caricato leve a sua dor para um rolê nos subterrâneos da cidade. Quando estiver bem torto, ria da sua dor como um bêbado se diverte com a sua própria sombra em farrapos.

Auto-ajuda punk: não glamourize tanto a sua dor, tire onda, o amor é assim mesmo, como me disse um dia, num botequim imginário, um escriba italiano cheio das grapas: um beijo,dois beijos, três beijos, quatro beijos, cinco beijos... cinco beijos, quatro beijos, três beijos, dois beijos, um beijo... e FIM e pronto.

Xico Sá

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Tendo a Lua

Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias, gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim

O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu
E lendo os teus bilhetes eu penso no que fiz
Querendo ver o mais distante sem saber voar
Desprezando as asas que você me deu

Tendo a Lua aquela gravidade
Aonde o homem flutua
Merecia a visita não de militares
Mas de bailarinos e de você e eu

Eu hoje joguei tanta coisa fora
E lendo os teus bilhetes eu penso no que eu fiz
Cartas e fotografias, gente que foi embora A
casa fica bem melhor assim

Tendo a Lua...

(Tetê Tillett - Herbert Vianna)

sábado, 5 de janeiro de 2008

Never, ever, ever, ever underestimate the power of "I'd like that."

So I was thinking' about relationships and about how it pertains to songs about relationships, and uh, I was trying to think, well it occurred to me that the key, I figured out the key to a relationship and how to make it work. Check it out, this is, this is, a tip from your uncle John, check it out: when you first meet somebody, you find out they like you, first of all, a friend of a friend of theirs say, he or she really really likes you, and it kills you, floors you, sends you to the ground, you've got to pick yourself up off the ground; then you get their phone number and you call them up, right, and you say "Yeah, that's a really great phone conversation, can I see you some time?" and then they say this, they say, "I'd like that."

Nothing feels better than "I'd like that".

So now, your blood pressures' going, you're six feet off the ground, you can't sleep, because of "I'd like that". So then you hang out for a while, and you call and you talk on the phone all the time, and then you drop the bomb, what feels like the bomb, you say, "You know what, I've been thinking about you a lot." And she goes, "Ahhhhhhh!" And you go "What happened?" and she goes, "I'm sorry, I just, I just, I just, that's, I've been thinking about you too." Bam. Higher into the sky.
But now "I'd like that." Tch. Done. Now you're up to "I'm thinking about you." Then however number of months pass, it makes you feel comfortable saying it, you say, "I gotta tell you something." They go "What?” you go "I'm in love with you." And nothing in the world sounds better than "I'm in love with you." And then maybe she starts crying, or maybe he goes "*gasp*". And all the sudden you're like "I'm in." But now what doesn't work?; "I'd like that." and "I've been thinking about you."

Now we're at "I'm in love with you."

Then maybe someday it'll move up to "I love you." Fast forward, now you're like "I love you a lot; I love you more than anything in life." Now "I love you." doesn't work. It's a threshold that keeps moving up. Fast forward, like six months, six weeks, whatever the case may be, now you're on like, "I want to marry you." "I want to impregnate you with my love." "I wanna, I wanna just send my love to you." "Damn it, words don't work anymore." And then you say this line, and you know, you know you've used this line before, "I just wish they'd put a new word in the dictionary bigger than love because love just doesn't describe what I feel." And so now he or she starts asking, "Do you love me?" and you start going, "Of course I love you." "Well say it." And then it becomes "Say it twice." And it goes "Say it three times."
And then, you cross a really interesting point, where all the sudden it becomes "I hate you, I hate you." And you go, "Oh my god she hates me." And now it's like "I hate you more than anything." And then it's like "We're over." And then they go "No we're not." And you go "Yes we are."

Now the words completely do not work at all, you're left with nothing. You're throwing punches under water. You're done. You know what the moral of that story is, if there is one:

Never, ever, ever, ever underestimate the power of "I'd like that."

(John Mayer)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Entre o medo de ficar e o cagaço de partir

Existe um sentimento de heroísmo e sacrifício auto-infligido nesse exílio ao qual estou me submetendo. Sempre gostei de pensar na idéia do self-made man, do vim, vi e venci, do “Oh, yeah, I’ve been there, baby”. Acho que isso é reflexo de muito Johnny Cash, Bruce Springsteen e Sam Shepard... Ia dizer Hemingway, mas acho que aí já seria forçar um pouco a barra. E, venhamos e convenhamos, a Austrália não é exatamente Serra Leoa.

Tenho plena convicção que eu realmente viverei os meus anos de ouro por lá, que os próximos serão os anos que realmente farão a diferença no plano maior da minha vida, para principalmente dissipar essa nuvem preta que pairou sobre meus olhos nos últimos anos. Vai ser uma nova grande fase, certamente com bons e maus momentos, que servirá para eu finalmente aceitar que a fase anterior, também com seus bons e maus momentos, definitiva e inexoravelmente acabou. Tipo, a passagem da Idade Moderna para a Contemporânea.
Mas, apesar de saber disso tudo, dá um cagaço da porra ao pensar em largar tudo, pegar um avião e voar para o outro lado do mundo...
Eu tenho um apartamento inteiro para me desfazer, com todos os móveis, tralhas, eletrodomésticos, sonhos partidos e lembranças que todos acumulamos através dos anos. Tenho um emprego, meia-boca diga-se, para largar. Tenho amigos queridíssimos para dizer adeus até sei lá quando. Uma família para deixar para trás. E, o mais foda: tenho meus fantasmas, guardados em mim com laboriosa e paciente dedicação. Esses serão o mais difícil de deixar para trás.

Viverei uma vida de imigrante, sem previsão de volta. Quantos anos durará essa fase australiana? Gosto de pensar que será bem longa. Afinal, se eu ficar lá, é porque estará bom. Se eu voltar rápido e ainda achar que isso aqui, com toda essa merda, ainda é melhor do que lá, coitado de mim. Agrada-me a idéia do voltar, daqui a muitos anos, completamente diferente, calmo e experiente ao invés desse poço de ansiedade que sou hoje. Depois de vários anos de ausência, de ter conhecido a dor e a delícia de me ver sozinho em terras distantes, de ter amado e ter sido amado não uma, mas quantas vezes acontecerem, de ter aprendido finalmente alguma coisa sobre mim, sobre o meu país e sobre as pessoas que eu deixei para trás, voltar e enxergar tudo isso como se fosse a primeira vez, longe desse olhar viciado e condescendente que eu tenho hoje.

“Tyler, my eyes are wide open”. Vai ser do caralho algum dia dizer isso!