quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Entre o medo de ficar e o cagaço de partir

Existe um sentimento de heroísmo e sacrifício auto-infligido nesse exílio ao qual estou me submetendo. Sempre gostei de pensar na idéia do self-made man, do vim, vi e venci, do “Oh, yeah, I’ve been there, baby”. Acho que isso é reflexo de muito Johnny Cash, Bruce Springsteen e Sam Shepard... Ia dizer Hemingway, mas acho que aí já seria forçar um pouco a barra. E, venhamos e convenhamos, a Austrália não é exatamente Serra Leoa.

Tenho plena convicção que eu realmente viverei os meus anos de ouro por lá, que os próximos serão os anos que realmente farão a diferença no plano maior da minha vida, para principalmente dissipar essa nuvem preta que pairou sobre meus olhos nos últimos anos. Vai ser uma nova grande fase, certamente com bons e maus momentos, que servirá para eu finalmente aceitar que a fase anterior, também com seus bons e maus momentos, definitiva e inexoravelmente acabou. Tipo, a passagem da Idade Moderna para a Contemporânea.
Mas, apesar de saber disso tudo, dá um cagaço da porra ao pensar em largar tudo, pegar um avião e voar para o outro lado do mundo...
Eu tenho um apartamento inteiro para me desfazer, com todos os móveis, tralhas, eletrodomésticos, sonhos partidos e lembranças que todos acumulamos através dos anos. Tenho um emprego, meia-boca diga-se, para largar. Tenho amigos queridíssimos para dizer adeus até sei lá quando. Uma família para deixar para trás. E, o mais foda: tenho meus fantasmas, guardados em mim com laboriosa e paciente dedicação. Esses serão o mais difícil de deixar para trás.

Viverei uma vida de imigrante, sem previsão de volta. Quantos anos durará essa fase australiana? Gosto de pensar que será bem longa. Afinal, se eu ficar lá, é porque estará bom. Se eu voltar rápido e ainda achar que isso aqui, com toda essa merda, ainda é melhor do que lá, coitado de mim. Agrada-me a idéia do voltar, daqui a muitos anos, completamente diferente, calmo e experiente ao invés desse poço de ansiedade que sou hoje. Depois de vários anos de ausência, de ter conhecido a dor e a delícia de me ver sozinho em terras distantes, de ter amado e ter sido amado não uma, mas quantas vezes acontecerem, de ter aprendido finalmente alguma coisa sobre mim, sobre o meu país e sobre as pessoas que eu deixei para trás, voltar e enxergar tudo isso como se fosse a primeira vez, longe desse olhar viciado e condescendente que eu tenho hoje.

“Tyler, my eyes are wide open”. Vai ser do caralho algum dia dizer isso!

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