segunda-feira, 4 de junho de 2012

Sobre Gatos e Pessoas (ou É Tudo a Mesma Coisa)





Estive de férias e na casa onde estava tinha um gato.

Sou do tipo fã de cachorros mas sempre achei a elegância, garbo e desapego dos bichanos bastante interessante.
Eu e o gato começamos a nos conhecer melhor, ele aparentemente foi com a minha cara e rapidamente já estávamos assistindo TV juntos, eu com o bicho no meu colo, enquanto coçava sua orelha.

Uma cena linda.

Um dia, de maneira completamente inesperada, o gato, no meu colo, arranhou a minha mão.
Minha primeira reação foi, muito puto e me sentindo traído, pensar: "Gato filha da puta!!  Tava aqui te fazendo carinho e você faz isso comigo??".
Comecei imediatamente a fazer um tratado mental de como esse bicho é traiçoeiro e pouco confiável, que não era surpresa que tanta gente não gostava de gatos e que algo que ataca a mão que o acaricia certamente tem algo de errado.
Foi no meio desse monólogo interno raivoso contra a natureza felina que percebi.

Era um gato.

Não era a primeira vez que isso acontecia e, se eu voltasse a conviver com gatos novamente, provavelmente não seria a última.

Gatos são assim, é como eles são.

Qualquer juízo de valor que eu tivesse seria patético na inutilidade de mudar qualquer aspecto de sua natureza.  Seria o mesmo que ficar puto por uma pomba voar ou por um cachorro abanar o rabo, mijar num poste ou morder outro cachorro.  É isso que eles fazem.  Eu posso dar o nome que eu quiser para o comportamento do bicho, é irrelevante.  Ele não poderia estar menos preocupado com os meus conceitos de lealdade e traição.
Nessa linha de raciocínio, lembrei de pessoas que me tinham feito mal no passado - ou que eu achei que tivessem me feito mal ou, no mínimo, não se comportaram da maneira que eu gostaria.  Pessoas em quem eu confiava e que contaram segredos meus. Ou inventaram histórias a meu respeito. Ou mentiram para mim. Daí percebi.

São pessoas.  Pessoas são assim.

Isso, claro, não se trata de uma constatação inequívoca que ninguém presta ou que estamos todos sozinhos num mundo cruel.  O ser humano é capaz de atos de extremo altruísmo e bondade, o amor existe e a coisa toda.  Também não quer dizer que não temos livre arbítrio e somos escravos de nossas naturezas mesquinhas. Nada disso.

Só não dá pra ficar indignado ou surpreso quando as pessoas agem como pessoas.

Como no caso do meu amigo gato.





PS: Eu e o gato eventualmente fizemos as pazes e ele voltou a ver TV dormindo no meu colo.
Mas ele tá fudido se vier tentar me arranhar de novo.



Nenhum comentário: