terça-feira, 9 de outubro de 2012

Beans On Toast tentando dizer a verdade



Jay é inglês, de Essex, gosta de jogar videogame e tocar violão.  Sua voz já está bem arrebentada pelo cigarro, drogas e cerveja.  Jay está no final de seus vinte anos, começo dos trinta, e está ficando careca.  Jay bebe muito, toma mais drogas do que deveria e não é nada envergonhado disso.  Ele gostava de Laura Marling de um jeito no mínimo inadequado quando ela tinha 16 anos.  Saiu uma vez com uma moça de 38 quando ele tinha 26.  Jay comprou um computador Apple uma vez e adorou, só ficou um pouco preocupado onde ele havia sido construído.  Jay adora ir a festivais de música e não se importa com os banheiros sujos.  Ele namora Lizzie Bee e gosta bastante dela.  Jay foi grunge, adora rock n'roll, reggae, bluegrass e country, Henry Rollins, Wu Tang Clan, Counting Crows e Fats Domino.  Odeia Tony Blair e George W. Bush.  Uma vez ele ficou bem puto de ciúme quando sua namorada saiu numa viagem de seis semanas pelo Mexico.  Jay é um cara com senso de humor.  A única coisa que Jay pede desesperadamente é que o deixem fumar no pub.  Seu objetivo na vida é viajar por aí, tocar suas canções e vender alguns CDs que o permita continuar fazendo isso.

O Jay das canções parece ser um cara bem legal.

Jay é o homem por trás do projeto Beans On Toast e já tem três discos lançados.  Sua música é a mais simples possível, a grande maioria ao violão, um piano aqui e ali, uma marcação de bateria e um backing vocal e olhe lá.  Basicamente música de bar, pra cantar junto.
A beleza da coisa toda está justamente na simplicidade e na honestidade quase punk que ecoa de seu trabalho.  É música direta, urbana, sobre o hoje e sobre o agora, de um ponto de vista absolutamente pessoal, com todas as contradições e limitações que isso oferece.  É quase um blog em forma de canções: ele fala e tem opinião sobre tudo e não tem nenhum interesse em aprofundar conhecimentos ou formular teorias.  É aquela coisa de "é assim porque eu acho que é assim" e tudo bem.  Ninguém precisa concordar em tudo.
Ele frequentemente é tema de suas próprias canções, em forma de histórias engraçadíssimas que sempre envolvem mulheres, drogas e bebedeiras.  Esse estilo autobiográfico, autodepreciativo e irônico lembra bastante o trabalho de outros autores.  Penso bastante nos quadrinhos de Harvey Pekar e Robert Crumb, especialmente o American Splendor, de Chester Brown e da série de TV de Louis CK, Louie.  Para falar sobre o mundo, comece falando sobre sua rua, certo?

Seu disco de estréia, Standing On A Chair, é um disco duplo, com 50 (!!) canções no total, onde Jay canta sobre tudo, de cocaína a Saddam Hussein, do colapso da indústria musical a juventude revoltada inglesa.   Os discos seguintes, Writing On The Wall e Trying To Tell The Truth, já possuem formatos mais modestos, mas o conteúdo continua o mesmo.  O amigo Frank Turner produziu esse último, e já dá pra perceber uma tentativa de dar uma mínima sofisticada no som do Beans On Toast e o resultado é excelente, mantendo a tosquice onde ela deve permanecer.

Num mundo onde uma estratégia eficiente de marketing e uma boa imagem institucional é tão importante para um artista quanto achar os acordes adequados para uma canção, é um alívio passar algumas horas escutando as  histórias de Jay, tocadas de maneira direta, como ele sabe fazer, e não se importando com isso.

Como era mesmo aquela história punk do "faça você mesmo"?










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