quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Daytripper


Algumas obviedades que você provavelmente já ouviu por aí:
  1. Fábio Moon e Gabriel Bá são dois dos maiores artistas de quadrinhos brasileiros desde...  Bem, desde sempre.
  2. A qualidade e a diversidade que o gênero quadrinhos adquiriu nas últimas décadas e sua conseqüente diversificação de mercado permitiu que diferentes tipos de histórias pudessem ser contadas nesse formato, com resultados mais ou menos bem sucedidos.
  3. O Brasil não oferece nenhum reconhecimento a muitos dos talentos que tem, fazendo com que muitos deles tenham primeiro um reconhecimento “lá fora” do que por aqui.

Tudo verdade.

Quem acompanha o trabalho de Moon e Bá sabe do talento que os irmãos gêmeos sempre demonstraram em seu trabalho.  Porém, sinto que ainda faltava uma obra definitiva, uma união efetiva entre a arte e o texto, que justificasse a linguagem de arte seqüencial que eles inegavelmente dominam, onde o texto e a arte se complementam harmoniosamente, sem um se sobressair ao outro.  Daytripper, que acaba de ser lançada no mercado brasileiro pela Panini, veio para preencher essa lacuna.   





A obra foi originalmente lançada no mercado americano, pela Vertigo, selo de quadrinhos adultos da DC Comics.  Foi vencedor de diversos prêmios, inclusive o respeitado Eisner como melhor minissérie de 2011.  
Já no Brasil....

Enfim...

A obra é um primor em qualquer aspecto que se analise: a arte é arrebatadora e se encaixa perfeitamente no ritmo e fluidez da história.  Os personagens são humanos, demasiadamente humanos, e vamos acompanhando e nos identificando, através de suas vidas, o quanto temas como família, amizade, amor e morte são caros e relevantes a todos nós.
O fato da história se passar no Brasil, em diversas cidades, passa ao leitor brasileiro uma sensação de familiaridade ainda maior.  Mérito total da arte, os detalhes das pessoas, arquitetura e hábitos de várias cidades brasileiras, aumenta significantemente para nós a intimidade e identificação com a obra.



A narrativa da história é ousada, abusando de regressões temporais, cortes, idas e vindas no desenvolvimento da história, mas que nunca fica confuso, pretensioso ou difícil de acompanhar.  Nesse caso, ela serve justamente para desenvolver as complexidades e profundidades dos personagens, especialmente do protagonista Brás Oliva Domingos.  Outro ponto em que a dupla acertou em cheio!
A obra foi originalmente publicada como uma minisérie em dez edições.  A divisão dos capítulos sempre deixa o leitor com um nó na garganta quando um termina e outro começa.  Nos faz parar para coçar a cabeça e nos lembrar que todo dia pode ser um dia daqueles, onde tudo pode mudar e que não conseguiremos esquecer.

Não vou fazer um resumo do livro aqui porque creio que reduziria demais o conjunto de idéias profundas que Daytripper alcança. 


Saiba apenas que aqui ninguém tem super poderes ou vem de outro planeta.  Aqui as pessoas vivem suas vidas da melhor maneira que conseguem, tentando se relacionar com os que amam do jeito que sabem.  Como eu.  E como você.

É um trabalho muito bonito, que realmente emociona pela honestidade e carinho com que os personagens se desenvolvem e seguem seus destinos.   Uma obra de arte!



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