quinta-feira, 8 de maio de 2008

Cuidado com o que você deseja

Pense numa coisa que você quer muito. Essa coisa depende de uma outra pessoa, ok? Beleza. Imagine um telefonema agora, que você espera por uns dois anos ansiosamente. Você já fantasiou sobre todos os mínimos detalhes possíveis dessa hipotética conversa: as exatas palavras que você escutaria, como você reagiria, seu tom de voz desinteressado que você praticou milhares de vez mergulhado em pensamentos durante o banho... Sacou o tamanho da obsessão, não?
Pois bem.
Um belo dia você está simplesmente vivendo a sua vida, andando distraído pela rua e seu celular toca. O número que aparece no visor faz o seu sangue gelar. Você sabe quem é, mas não imagina o motivo dessa ligação. Você fica olhando para o aparelho berrar e vibrar na sua mão por alguns segundos, respira fundo e aperta o botãozinho verde: "alô".
Esquece imediatamente do discurso tão bem formulado e a voz sai fraca, quase débil. Uma pigarreada, uma gaguejada e você está sob as duas pernas novamente, fazendo um esforço enorme para conseguir manter uma linha de raciocínio numa conversa com o mínimo de coerência.
E aí acontece. E nada poderia te preparar para aquilo. As palavras que vêm são exatamente as mesmas que você escutou na sua cabeça nos últimos dois anos. Uma atrás da outra. Vêm embrulhadas ainda por cima num belo pacote de veludo feito de arrependimentos e lágrimas. Você fica ali parado, escutando, murmurando qualquer coisa apenas para demonstrar que você continua ali. O estranhamento toma conta de você.
O que fazer com aquilo agora? Era realmente o que você queria ouvir, com aquela similaridade insana entre a sua imaginação e aquele momento, mas agora que você finalmente ouviu, as palavras morreram no momento em que foram ditas. E você tem um elefante de doze toneladas parado na rua olhando para você.
Você nunca se preparou para o que fazer em seguida. A fantasia acabava no telefone, não tinha um depois. E essa falta de preparação te deixa perdido, confuso, um tonto com um telefone na mão e nenhuma idéia na cabeça.

Estou muito curioso com a continuação desse telefonema.

Um comentário:

Daniel Escobar disse...

Cara, eu também cacete!
Fala logo!!!!