sexta-feira, 23 de julho de 2010

Pedra ou vidraça

É aquele papo de sempre: é preferível a sua ira ou a sua indeferença? A resposta, por dolorosa que pareça, é bastante clara. Podemos ser odiados, à contragosto certamente, mas não sermos notados é a dor definitiva, quase insuportável.

De novo, caímos naquela velha conversa de botequim sobre o ego, esse grande vilão recentemente descoberto e aparentemente responsável por todas as merdas que fazemos e sentimos. Precisamos ser amados – ou odiados, desde que notados – e faremos tudo o que pudermos para garantir isso. Por mais ordinários que sejam nossas vidas e nossos desejos, o maldito do ego ainda nos faz acreditar que, internamente, somos especiais e nossas motivações e sonhos nos distinguem de todos os outros. Até alguma fantasia sexual um tiquinho fora do comum já nos transforma em secretos Roccos e Sashas Greys do escritório, da academia ou da reunião de condomínio. É foda, enxergamos o que queremos enxergar, entendemos o que queremos entender e falamos os maiores absurdos só para nos arrependermos depois.
É a cachaça de nossa alma. É o que nos faz comprar roupas novas, dirigir rápido como um idiota, arrumar brigas na balada, escrever textos pseudo-inteligentes em blogs que ninguém vai ler, decorar poemas que podem nos mostrar cultos e inteligentes no momento certo, criarmos profiles em sites de relacionamentos onde temos um milhão de amigos - e evitamos grande parte deles quando os encontramos no supermercado -, montar uma banda ou querer escalar o Everest.
O ego é responsável praticamente sozinho por uma grande parte da economia girar, criando empregos e atividades onde gastaremos o que temos e o que não temos para mantermos nossos egos brilhantes e polidos.

Agora, se todos e cada um de nós está acordando e indo dormir todos os dias suprindo a vital necessidade de acalentar nossas vaidades ocultas, é bastante óbvio que, em muitos momentos, enganos e mal-entendidos serão inevitáveis. Isso vai desde a moça que tem certeza que "I'm Your Man", do Leonard Cohen, secretamente foi escrita para ela até o já famoso "acho que você me entendeu mal", disparado contra corações atrapalhados a todo momento desde que o mundo é mundo. É o subproduto do embate entre o meu e o seu desejo de sermos especiais. Não tem como dar certo mesmo. E não faz muita diferença em qual lado da porrada você está: o fato é que quase certamente você estará do outro lado do soco em algum momento próximo.

Assisti um filme um tempo atrás sobre isso tudo. Chama Revolver, do Guy Ritchie. O filme em si é bastante discutível como cinema, mas existem muitas boas idéias ali. Aparentemente, o ego é o grande vilão do filme - vilão no sentido Coringa ou Darth Vader do termo. Interessante.

Um comentário:

Mirafuegos disse...

levei esse pra casinha e devemos fazer uma sessão lá.
!abrass..